quinta-feira, 18 de agosto de 2016




nesta noite as sementes estarão germinando
digo isso como uma profecia heresia cortesia
nesta noite os olhos estarão sonhando
planando o espaço entre o concreto
esse concreto todo que se separou entre nós

ora as faixas são feitas para atravessar
e não vem nada comigo nesse bolso vazio
cheio de esparro resto de fumo ilícito

portanto me entrego a esse bar em detalhes constantes
de me seguir em roda dançando a cobra engolindo
espada estala na costa bambus soltam-se entre o vento

há um ritual de terra em curso
e o pisar dessa pisada sobre o chão
rebate o tambor no peito o efeito
de ver qualquer clarão
nessa noite cercada
através de umas árvores

digo isso como uma fruta um pão café
noutra noite as larvas trabalhando
as ruas brotando
tantas pancs mijadas
às lavras do acaso

por favor o que sobrar junta comigo e enterra



domingo, 24 de abril de 2016

minha vida amor
é um acumular de mágoas
perdões por pedir
permitir a deuses líquidos
perdões perdidos
culpa cristã
lamentos anfíbios
ânsia afã
culpa ambígua
pendões floridos
meu amor em minha vida
é um exalar de espinhos
noites porvir
pequenos palpites
de exaltar detalhes
num acumular de sonhos
querida libido oscila
num destacar de sentidos
onde a que é permitido
desdenhar de dor

quarta-feira, 16 de março de 2016

não posso me embrenhar nesse trançado verde
entre luzes dispersar
difundir riscar paredes

desculpe, cara, não vi o tempo passar
não sei onde colocou
pela vitrine vislumbre vi passar
paisagem pela janela

esconde nessa exposição
na sombra onde não olha
ofusca vidro da sua visão

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

o

contra o amor
parece um universo infinito de se
opor
tentar não escrever
e tudo que pulsa
é o mesmo nervo

pois se ver
no espelho convexo
do olho alheio
sentir a punção forte
de se reinventar
triste quem não sabe amar

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

sou pedra
engasga
enfim terra
sem sombra
espasma espalha espelha
diga de passagem veio sentir ser
não fez diferença
póstuma
pôs culpa
em cheque
dúvida

a batida quebra
o homem trabalha o cimento
a casa é de pedra
cidade acabamento

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

virou a meia noite
a lua cheia
redondou a cor
do escuro foi
se a palma aberta
por onde viu
apertou a córnea
revirou

flor esta de plantas novas
imunes a afeto
tangentes à superfície
as luzes bruxuleiam

outro movimento
com o vento
foi pauta sopro
flauta a luz da lua
lumiava surgimento
outro onde
descobriu

remonta
sobra a mata
sobe o monte
por onde passou
deixou rastro
que perfumou a volta

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

amarelinha

todos os dias cabem
esses sorrisos leves
que sejam breves
seus lábios sabem

ao seu lado acordar
bom dia estará
esperando os pássaros cheiros da manhã
seus olhos atrevem
cheios em um brilhante despertar

sua vez
pode jogar

todas as luzes da noite
vagam instantes serenos
no correr da escada ao seu lado
subir e descer
são os mesmos intervalos

que jogam palavras
palavras na beirada
no corrimão dobradas
costas e o redondo da paisagem quadrada

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

eu tenho uma pressão enclausurada dentro de
que nem borda da poesia compreende
torniquete gelado questiona meus joelhos
eu já disse pra você que tenho muita fome
sedecansaço e nenhum sono
agora embaço o dedo na película arranha
envolta da sombra do amparo do abraço
abolo eu tenhum a coisa sabe
embolo eu afundo aumento e ciclo
embora avanço tenho uma permissão guardada
de ser o que próprio atravesso
obter a plena ciência de si sem
acesso à experiência e pensa que
sabe agora a armação âmbar
êmbolo solto a golpear abalo
motor em combustão nenhum escapamento

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

foto

fulminante
seco de fogo
aqui nesse instante
olho seco oco
já te imaginei diferente
arde feito foco
em outro ambiente

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

todo dia olho e vejo o rastro que o amor deixou
queria proteger você de mim
cheguei na cidade e fui recebido com chuva
o dia amanheceu de dentro
guardo as conchas que peguei pra você
as deixou esparramadas pelo chão


outra atmosfera
mais sóbria
não inédita


olha o que aconteceu
o que virou
como pode
virou


cada vez que panhava uma era lembrança
de você distante seu rosto dentro de mim
como as curvas que o tentáculo fez


eu não consigo nem conversar
não posso dizer
não há tempo
você as sim deixou num abandono comum


o tempo incandescente intenso
frio aqui
eu que viajei de longe




foto mariana megale

terça-feira, 24 de novembro de 2015

são pontos fixos
ou pontos cegos
olho tudo e não vejo nada
não vejo sombra
como se o exame da paisagem
descobrisse no lugar de detalhes infinitos
traços e marcas
espalhamadas na superfície do papel
manchas de cor

a lembrança da medida
vastos olhares por sobre
ponho tudo e tenho nada

sábado, 7 de novembro de 2015





espalha as coisas todas assim
café chet muita tristeza
mais uma manhã assim
penso em escrever
para espantar meus medos
mas apenas escrevo medos
meus dedos
modos surdos
nada
mais pode tornar mais absoluto esse silêncio
e a poesia de outros
que usamos para nos esconder
com tantos dedos
de leve
revelar um
resvalar
lembra um pensamento pássaro
que já não é mais manhã
eu não tenho nada
e até para educar os medos
precisa vida
precisa mais que uma manhã de cigarros
ouvidos tímpanos estourados
a garganta seca
a lágrima salgada
a pele salgada
do rosto
de tanto chorar
já não diz nada
não pode ligar
está ainda tão cedo
mas acordo para lembrar
afasto disperso essa nuvem de fumaça
nada pode descrever assim
o vazio fundo
a traça que consome seus papéis
enquanto tudo leve tornamos
entornamos o copo
atormentamos para escapar
dos surdos
dos críticos
da massa
do barro
enquanto a água leva
arrasta tudo que é vivo e pode silenciar
a solução de todas as questões
a dissolução de tudo
já não tenta apaziguar
embriaga amarga apalpa
a face
berra
lendo um pensamento
escrevendo um poema
mas uma lembrança assim
mais uma manhã assim
não adianta nada
tampada
levanta de longe vendo sua vida
não pode deitar
acabou de levantar
sonhos a levar
poder de levitar

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

olhaí olhaí
só falta te comer

tá pensando que perdeu
todo mundo viu

tá faltando o que já comeu
até caiu
nessa lama
a rastejar
ondular a farta memória primitiva
de ser princípio e fim

até engoliu
próprio rabo
autocanibal
animal

pensa que pode por
a palavra que quer pode por
pesa a que pensa que dor

tá falando que sou eu
amigo
amigo, chegaqui
pensa comigo

resta o princípio
que outro irá
engatilhar

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

bom dia quem fala
vivemos vem um dia e
veremos quando termina
via voa o dia a vida
olha quem fala

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

asas

nós que damos outros nomes às
coisas nós que
não entendemos nada
o nome da ave voa
o nome do ar respira
nós não somos coisas mas
temos nomes em nós que
damos coisas aos pássaros
irrompemos sol
irradiamos as pétalas amarelas
o nome do tom é

não sabemos de nada que voa
arrependemos sós
arrancamos as penas de
não saber ter tanta angústia

terça-feira, 20 de outubro de 2015

sexta-feira, 16 de outubro de 2015


(sem assunto)
as fotos que você tirou
entram na imagem
a memória não falha

no momento a ligação se forma
masca essa bola
as fotos que você pediu
para: olhar

o binário dígito não se destrói
copia e fica nessas bases
mais essa agora
copia e cola

então na janela presa a mariposa
até a morte
agoniza na ignorância




quinta-feira, 15 de outubro de 2015

o silêncio é o fim de tudo
e sua indiferença
esse esperar resposta
dói como a pele marca
raspa no chão
o enfim interminado da sua frase
inconcluso abandono então

já não tenho vontade de
venceu o debate
pode escolher

ou fechar o sim pra tudo
ausência nessa sina
soltambígua reescrita
esse remoer de remorso
deixa eu ser um troço
recente mensagem
renova o dito-portanto-escrito
do absurdo intermitente

já deu pra ver
vou só esperar
a esvanecer

já deu pra saber
fecha assim
ficam as coisas assim
ressignificam

já desesperar
não sei
não quis
já despedaçar
é a fome sem a vontade de comer
rumina bile à boca seca
dor amarga aperta como soco
cansei de girar
nada tenho a ceder
e nem sei

e nem por isso
as coisas ditas ficam reais
pode escrever
com poucos toques
linha do tempo
está tudo escrito
com seus próprios traços

domingo, 4 de outubro de 2015

esqueci minha paciência no seu colo
nos pelos nos seus pés pedi
me ergo e espreguiço minha ausência
meu miolo meu caroço estralo
estrela vulgar na noite alucina
eclipse da lua ofusca e ilumina
esqueci meus óculos tudo deixei
meus ósculos elipse da lua
fez chegar mais perto
e vai dar um jeito
e vai desse jeito
estendi minha insistência
em sentar deitar e me soltar
até dormir
mas ergo e vejo
numa casa onde é sempre dia
era eu e ausência sobre suas pernas
sob seu ventre afundando
nos cabelos nos poros
no alvoroço que fez a rua
o cadarso o remorso
estranha alquimia
sobre seus seios
sei e quis me desfazer
no começo onde errei
mas aprendi
arrependi menos
semelhantes sementes
em deitar rolar e me sujar
até fremir
subjugar até restar
bramir enfurecido
remoer até ficar mais forte
e vai sem jeito dar
estanque vagar
meus óculos a lua encima
não sabe dialogar
não sabe nada até chegar
devora uma semente de cardamomo
que não haja na sala febre
sob seu ventre vem anunciando
o ciclo lunar vermelho
pousa sobre o cabelo
mariposa ardente em desespero
mas ergo e quero
numa casa a distância em dentro
no alvoroço que fez me seja
o mortal numa tarde onde é sempre dia
que delícia suas pernas
demora em cima
fluidos polens perpassam
o que se chama de ar
talvez seja éter
o que sustenta os passos
da flor

tão

tonto busco o objeto da escrita
onde estão meus óculos?
torto caminho cego enquanto procuro
outro ouso cago enquanto
afundo as mãos no meu rosto
pasmo todo
em vão deixo meus objetos?
meus trajetos quais são
seja onde pouso
parace quem?
parece o que mesmo?
por si só
meus trajes quase são
outro doido que caminha em vão

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

não meta o dedo aí
eu sei
você pode se machucar
eu não falei
pode deixar sangrar
agora que a pele tocou
contaminou
a tudo que toca sou
transmito
transparece
não meta bedelho
todo mundo me marcou errado
você pode me machucar
eu não falei.
pode deixar sangrar
agora que a pele abriu
perfurou
a tudo que corta
sangrou
sanou
não perca fedelho
você pode desobedecer
agora que falei
eu não sei
vou por
tudo sangrar
nessa armadilha
armei
transpiro
transcende
agora que arrepiou
não meta o dedo
onde pode sangrar
agora que você
tudo tocou
pode deixar
afundar pele carne
sangue salgar
costurar
não perca o fio
coelho
coeso
agora que eu sei
agora observei
deixou tocar
soou
suou
sombrio
lume onde fluiu
a trama rompida
não se perca
não se meta
sabe onde pescar
naufragar
mar sem ventilador
costuma observar
agora não se perca
não vá
amei
aspiro
ascende
não meta o dedo
sem trepar gatilho
deslizar
gotejar
perdura
funda rachadura
a maioria das coisas que eu observo
eu não julgo
querem que eu seja assim
mas eu não mudo
podem perceber que eu reparo
pela minha cara vira expressão
assim que conseguir distraio

olha aqui o poema da estiagem
a maioria das coisas não olho
eu não vejo
querem que eu seja aqui
mas eu me mexo
podem me dizer que eu faço
pode falar que eu ouço
assim que estragar reparo

desci um morro
olha, aqui eu não moro
assim que conseguir passar chego
pela minha cara
sem cansaço via
o reflexo da cidade
textura de luzes
rede de pontos luminosos
dentro de um breu ensurdecedor
um vazio brio seguro dentro
do conforto

olhei as grades
a maioria das coisas
que desejo não solto
eu não queria jogar
querem que eu
seja eu como ser

já pode descer
desse play
eu que sei
olhaqui o poema é esse
pode faltar que estrago
jogo tudo pro alto
por menor pormenor que seja

nasci um dia morro
reparar a maioria
das coisas que sinto
na minha cara de tacho
seja eu como
nasci um dia pra comer
no outro morro

as coisas nem sempre penso nelas
em conjunto
entono as palavras
daquelas que posso

bravo
desce daí

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

e (um instante antes)

pegar o que explode
um segundo antes
estar

pensar o que pode
um instante segundo
você

inflar o que expande
lamber o que sorve
flertar dançante diante da flecha

você

delirante podia ser
destacar de epitélio
desatar a chorar e gritar

minguante fervilha
eferverscer

dançar na chama contra as sombras
dispensar o pensamento
um momento
ante

espira
flutua aspira caótica
fractalia suspira
pisar um segundo
incontável segundo
as próprias percepções
enervar
a elevar delira

pira

uma fonte
límpidas percepções
íntimas imperfeições
em novas visões
novas luzes demonstram a beleza

espiral
flutuar aspiral caos
inflamar o que explode
e
jogar

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

pode não por esse veneno em minha boca
encontre outro hospedeiro
a saliva que cai e
tudo é escolhido
o momento serve ao concreto da poesia
não por essas palavras
na minha visão
pois não
entranha em si
espatifar todas as palavras
nesse texto sem espaço
sem esperança
tudo absolvido
absorto envolto na seda
não por mim
na minha posição
não esperava a noite que cai
apesar do cimento contínuo
pode tecer teia entre poste e placa
sob a lâmpada
afronte a lua
ao passar não chame
não explodir
implodir no que tece
mesmo veste
não passe por mim
não lamba barba
depois espalhar esporos
em constelações
não venha
pode por estes olhos passar
lembro uma vez
alguém lambeu meu olho
e tudo ficou ao certo da poesia
à margem
à deriva
sub a lâmina
em um filme
alguém podia esfatiar a lua

olhar pra cima

céu preto
tudo absoluto
seu passo certo
eu sei
precária forma em você cai de tudo
essas estrelas devem cair também
um dia
desse pó tudo deu
afia esse olhar

pode guardar essa fatia
o seu perto absurdo
alguém podia esfaquear a rótula
se perde
seu passo vacila
se eu passo a sua fome uiva
pode expelir essa palavra
eu sei que você quer
a penetração da quelícera
a liquidação da carne
desprezar minha casca




(lua crescente no meio, equinócio de primavera de 2015)

terça-feira, 22 de setembro de 2015

nunca

como sair depois
dos abraços escapar
arapuca
como pisar nessa rua depois
os fios dançam com o vento
e pensar estar ainda aqui
e sobrar essa ânsia
próxima música
o que vai tocar
mensagens em caixas
como pode
em par soltarem os dedos
em passos
de dança que conduzo
é tão, como olhar depois
o que vai sobrar
o que vai faltar depois que for
é pensar nessa busca
próximo encontro
soltar os cabelos pretos
desfazer qualquer nó e dançar
apenas penso
é como pisar na grama
saber o próximo passo
e o presente não se distingue
nunca
dentro de um lapso de ritmo
o pé faz volta
entrar no encontro
o que vai lembrar depois
sair desses braços
arrasto
como o dançar do pé
piso pra fora dessa porta
caminhar ausente depois
pisar nessas teclas
tentar entre os meios
caixas de textos
o que vai chegar
o que vai tocar enfim
é parar nessa sombra
próximo encontro
prender os cabelos
nuca
onda raspa vento leve
sair desses passos
no momento do lapso
onde engolimos nós
pensar o próximo ponto
como arrasta a roda
asfalto
no caminhar do balé
onda rasa lento tempo
percorrer o mesmo caminho
caminhar ausente
correr até o fim do fim
como como nutro
parar nessa sombra depois
correr é o ponto
que perde de enteder
o mesmo vento
sopra moça
nua
correr desesperadamente
amar descontroladamente
correr ao encontro
como se parar nesse longe
percebesse então a língua
pudesse estar a sós
porque não é
ser como antes

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

peixe

eu me arrisco em frases perigosas
na beira desse abismo danço até aprender a voar
as possibilidades de tudo dar errado todas
cansei de tanto ver
eu isca você fisga
a lama desse barranco toca a água faz margem

a velocidade com que tudo dá errado
fui capaz de tudo afogar
menos voltas que eu
eu me largo em goles ansiosos
de todas as tramas já provei errado
queria ver você todo dia
- eu sou peixes
- eu sou peixes
banhei sua pele
macia água envolvia
eu vou ser franco e gosto mesmo disso
até aprender a respirar
por fora nesse ar
em largos golpes de
e mesmo assim te teci
já sei mais
miséria do absurdo
eu me entrego e danço explodir de ridículo
cansei dessa cena
fui capaz de tudo tocar
o mais fundo fluido até o final
e você nada

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

quiabo

fale a língua parada
a palavra que talha a folha
colher de prata
papel alumínio
comer de boca cheia
boca fechada
não entra assunto

falhe a linda palavra
a que cresce talo
talher de pau
pimenta e sal
saliva
masala
mandíbula
mastigar de dentes mordidos
pequena pitada

engole
face limpa lavra
acende aquece
a saber que tal
lamber de olho fechado
cresce e cai
corta e junta
a cor do alho dourado
a cebola bela
a couve-flor
tomate fruta vermelha
azeite unta
refoga
pra narina entra
vapor vira baba

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

perdi-me em pelos
polos
pelos raízes soltas
eu saltos eu traço solto
eu que repito repito
e se me fosse por inteiro
em soltas conversas
em saltos
em sol

sábado, 8 de agosto de 2015

e jogar fora epitélio abrigo
desossar até a carne fora
até o tutano esmagado
ouço o baque bate pra que?
na esquina escura
e jogar da janela inseto verde
desprezar até essa casca velha
sobre a planta estufa
ouço o surdo som a epiderme
raspa na casca esfregado
som de peso até a unha afunda
pra que?
pra ver me pergunto eu
no medo de dentro
traz de dentro
onde o jorro perdura
carne dura
e rasgar até a víscera
a mísera
palavra vem me levar
e arranhar com lixa
estourar até berrar até onde
onde será que me olvidam?
quebrar com martelo o esterno
segurar adentro batendo afogado
e pousar da janela
e rasgar até a alma
se dentro achar o peito falido
o balão à deriva
ainda traz na mucosa mensagem

sexta-feira, 31 de julho de 2015

vem e me leva esse corpo
me anestesia de sentir quem eu sou
que me pode quem me dá
sem te sedar
sem tirar

segunda-feira, 27 de julho de 2015

É difícil entender, mas as ideias, convulsas, estrelam a noite
carrego dentro apesar de qualquer manhã.
É preciso saber, mas as estrelas que rego anoitecem
apesar das ideias que orbitam como ímãs.
Apesar de sonho, sabem as ideias, estreiam comigo a noite madrugada manhã
meio-dia tarde crepúsculo noite.
É hora de correr, mas convulso desejo desperto
o choro solto, acredito, foi nesse momento a limpeza
do rosto que abrigo
no braço deitado em cima desse tormento.


domingo, 21 de junho de 2015

olaria

algo
algumas
águaçude


frato
fratura


e distante sente
esse barulho molhado que fazem todas as coisas ao passar
tão rápido no asfalto que reflete essas luzes
todas ao dançar na passagem a cidade fria o sangue quente
vê se para pra pensar tomar um café ao chegar ao passar
ao sair ao lembrar
que quando faziam barulhos molhados os ruídos os passos
todos lembrados paralisavam a tatuagem nessa expressão fria
nessa condição fria
nessa tessitura armaria
sua rede e pescaria
todo lapso grande
todo lápis garante
o desenho dessa paralisia ortogonal
os miúdos brincariam
em condomínios escritórios e pensariam
ao mercado chegar e dominar
as gotas todas ao cair
o barulho demorado que olham do seu andar
todas as solas que encostaram ao pisar
tão rápido entraria na dança ao descer
olham fazendo lembrar de um café na noite fria que
teima parar
ao transitar no trágico
trago átimo nesse tecido amaria
sua sede e cederia
todo noite em que acenderia
todo norte em que apontaria
o desdenho de luz colidiria
tão rápido como baralhos dados mas ninguém sabia
que quando pensei meus olhos os fluidos os carros
todos passados par a par alisados a garagem as frias
nessa sensação vazia
que aplicavam as coisas marcadas
as cartas dadas
os venenos tomados
todas as coisas erradas

terça-feira, 16 de junho de 2015

pudera eu me perder nesses horizontes
pusera eu a me prender mesmo antes
afrouxa os nós talvez
e passa a apertar

sem título talvez
sem uso outra vez
pousara a se temer
mesmos antes nós
pausara a se tremer
meses esses a sós

terça-feira, 28 de abril de 2015

nesses dias onde a sede é coberta de penumbra
fico aqui
encolho
do meu pequeno vejo
o espaço que se forma entre toda partícula
as enormes e complexas forças
do meu desafino vejo
o significado inexato nessa retícula
então olho
do meu espaço seja
mais um que se perde

como aquela vez que alguém desfez
tudo que acumulei
em barro construído como pássaro
em seda envolvida em casulo
em teia conquistado meu território

nesses tempos onde a carne encoberta perfura
finco aqui
colho
do ser pequeno vejo
o padrão da vibração informa as quelíceras
as longas e complexas cordas

como tudo que liquida dentro desta casca
nesses jogos onde o sangue transparece
jogado nessa terra o que sobra
onde a descoberta cede à sombra

como a vasta obrigação de sobreviver
nesses complexos emaranhados
criados pelos padrões fenomenais
abro espaço
meu olho
as breves e longas ondas
em ninho construído como pássaro
em folha enrolada em casulo
em furo fundo feito meu labirinto
eu pressupus
você veja
dia e noite tento te alcançar daqui de
dentro
desse relógio

eu vago através desse círculo
mesmo você
veja
atravesso o avesso do que tento
te falar
temo

eu volto vulto
você seja
dia e noite tenta acordar
grades
a perta
dor

eu válido atravesso esse circuito
abro vagais asas enquanto
você dorme
de dentro tento
desdizer

mas você
perceba
no som do seu sono
travesso travesseiro
você dorme enquanto calo

sábado, 11 de abril de 2015

uma luz passa como uma nuvem branca por mim e atrapalha
estampido um ar raspa devagar no meio multitudinário do instante
uma palavra ultra passa o espectro das ondas visíveis
ouvíveis risíveis novamente
outra luz o abismo do lado de cá
elevar paredes para não cair

uma cor distorcida entre linhas
de uma fumaça que resvala
na cara o sentido daquilo se formava
trans formava
cor tecida
entre esses cabelos

a luz fumaça que dançava
horizonte explica tudo incluindo estes passos
e levar o sentido de tudo incluindo estes passos
transbordava na finura da tensão superficial da água
estourar a pele que nos protege
incluindo e levar, agora explica isso
uma pirraça na cara que agora outros passos
ouvíveis risíveis novamente
ouço o baque da sua pegada e nessa gana vejo
vejo no chão o efeito desses rastros

sábado, 28 de março de 2015

carbono

um texto de plástico para um ódio necessário
pessoa assustada toma remédios
evita encarar a morte de perto
costura o golpe da agulha
que perfura
e mais dentro insere

o afeto mais líquido
aquele que arde-sem-alarde
à sorte da escrita capilar
onde o sangue troca
oxigênio por gás carbônico

enfia suas lástimas-lágrimas para um ódio solitário
afoga mais um afogado
ofega forte sem folga
aqui a trocar
um trato tal teve
mas hoje todos dias ruins
sufocados
desenhados

na caixa de papel contém a bula
sabe
sobre essas receitas todas sobe um ar
uma respiração ofega uma mesma vontade
alguém foge toda certa
sabe
percebeu tudo
e parou de olhar
sem perceber
parou de querer

envia alguém por temer
já não aguenta tanto prazer
que percorrem nos nervos da dor
que ligam ao cérbero e músculos
que trama perfurada
envia outro olhar
sem lembrar que o atrito faz tremer
o toque continuasse a correr
todos os músculos da dor
que mais perto da morte afeta seu medo

a cápsula de plástico sabe
que diluída a dor quem vive é quem sente
um texto artificial contraditório
já não precisa mais viver
sabe
nesse exame feito pelo reflexo de outro ser
que liga a trama aos fatos
seus remédios e flores mortas
pudessem estar sempre vivas
pregadas com fita adesiva
nessa face muda
muda

descontarmos

precisamos comemorar
temos que

tudo muda
tememos o que?

hoje mudo
semana que vem

precisamos celebrar
bebe
        morar

tudo por conta
o que conta?

sair de casa
tudo que quero
espero
hoje em dia abrimos asas

temos o que?
a conta nessa mesa
em que comemos
e contamos casos

temos em conta
sair tudo de novo
precisamos beber
precisamos parar

tudo muda
hoje saio
medo saia
cedo seja

tarde chegamos
mais ficamos

precisas contas
esparramadas
na caleidoscópica memória vária
descontadas

hoje tudo
precisamos o que?
temo nada
na roda rodada como
moro
comemos
mesmos
mais ou menos

sábado, 14 de março de 2015

percorre suave mistério
nos traços que seu caminho afunda nessa terra
no barro que escorre da perna
mão na lanterna
acende uma casa
ou apaga o mundo
finca fundo
fato findo
ato inundo
na algibeira
pescoço seu suave mistério
nos passos que seu caminho afunda nessa pegada
embaixo na pele escapa na barriga
mão na lâmpada
acende uma brasa
ou apaga o furo
finca tudo
feto estaca
acho ferro
na carteira
o grão de gema
nos braços trago tudo que se repete nesse enigma
hoje findo
hoje fenda
hoje sendo
foge sonda
afundo

afundo
eu te ouço meu tempo ruge sumindo
indo vou na asa desse poema
mesmo tema
por mais que sufocar a dar
a dor
meu doido estratagema solto
por esses poros
problema
essa toalha florida
dessa conversa toca minha ferida
meu louco tesouro escondido
eu te ouço sem sentido
sem sentidos
se faz de desentendido
vou na tarde dessa estranha distância
que se abriga
e a probabilidade do tunelamento
perdido ao som de ido
meu nosso problema
essa costura poída
foi tímida sua cara
troco mas meça
eu le louco sem sempre
se faz de entendido
mas dessa tortura aflita
faz mais o seu sem saber
que podia por esses olhos
atravessar a cortina
tenho não
e todos esses isqueiros que se perdem por aí
e nem aí
em pontos costura olhar mais
falta sinto
nos portos que escorri minérios
impérios e toda água
erva e chá
tudo que me escava
essas falas
digo tudo
não me importa essa costura
ponto cruz
esse olhar vago
essa noite perdida
maldita
maluca
ma

falta dar um tchau daqui de cima
a manhã foi linda
o arco é belo
e a arquitetura
em cima

foi uma outra manhã
denso jazz muito alto muito alto
da cara dessa cidade
do prédio vertical
era último andar dançarina

tenho fósforos
riscados pela casa inteira
essas fumaças
em pontos soam bagunça por aqui

não me importa essa costa
esse mar do outro lado
não me importa
abro a porta
saio vertical
maldito
maluco
mal

falta um ar
uma coisa perdida aflita
um vômito ainda por sair
engulo minha bile
enfio dedo não importa
falta voar
melhor parar
uma hora foi
vou te levar




sexta-feira, 6 de março de 2015

ex cidente

outro lugar
outro dia de feira
que luto dia
com vontade de prosseguir
mas a perna já mole
mantendo
a paciência
escudo de força
a vida nessa cidade
a vida nesse cidade
a vida nécia
força
que luta dia de pé
lotação
sai do metrô
sobe avenida
a linha
alinha
mantendo
o sistema
a estrutura
ávida nessa cidade
ávida nesse lugar
a vida mas a perna já
a perna nada
aqui em pé

expectativa de
é reduzida
ame a vida
ame-me
mantendo
a linha
sai do trilho
sobe a calçada
escuro mantendo a força
outro dia
outra cidade
a estrutura destroçada
escudo mantendo a calma
o sangue
o fôlego
avisa
avisa nessa mensagem
a vida mas a perna não luta
aqui é
havia
vontade de mudar
de sair soprando
mas a pele
já não está
sobre a calçada
despedaçada
leva minha carta

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

amanheceu minha pele
no pensamento caminhos tecidos
sem limites são foscos chuva
as pancadas janela
amoleceu minha retina
o pensamento em fios séculos
os dias são não
no tempo
entregues
caminhos idos vistos vidros
envoltos vidos isto
mas saio vivo visto
óculos na paisagem
as viagens não são vingadas
no dito
um novo semblante se envermelha
apareceu um sorriso

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015


não sei te encontrar
não sei mais me perder
tantos olhos pendem
tamanhos mesmos
pedem por um fim

nada pois
pedaço do que eu emendei sem dizer
todos me olham tantos
pois tontos mesmo
perdem por mim

nada sei te encontrar
não mais perder
teus olhos por um fio
tremem tantos
podem por um sim

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

boca beat

eu ouso todos os seus poemas
outra prova
provo
co loco
outra deixa
eu ouço todos os poemas
escrevo vida na ponta do fio
eu ouço seus tons
o silêncio é o que falta
na minha boca desesperada
eu escrevo a ponta do fio
enfio
outra dentada
em todos os tempos do som
eu na ponta do meio fio novamente

outra coisa deixa
ou teço semi sons
outra coisa
eu ouso dizer que pela
minha boca desesperada
nascem respostas óbvias e macias
eu sei de tudo
sei
minha boca saliva
em outros tempos no tom
obviamente

os golpes agudos
em outro corpo deixa sua marca
eu na ponta da língua novamente
em outro corpo deixa sua língua
eu na ponta do toque
que puxe que passe
todo tempo flui como posição
em outro tempo deixa sua lábia
eu na ponta do pé aqui continua quente
os golpes profundos
eu outro corpo deixo minha mente
nascem respostas de tudo eu sei
mas não me interessam
deixo meus dentes
na porta da carne
que tudo puxasse
soubesse


a geografia dos mesmos versos

mas não me interessam
aqui no pé da porta sou poesia
sou pró
sou paralelo
a geografia dos meus sentidos
outra saliva
o selo da sua carne
em outro corpo de pé fui contido
eu na resposta de tudo eu sei
se
tudo que puxasse fosse poesia
eu sei
deixo minha mordida
aos que não interessam
pela lógica torta dos meus caminhos
sou pó
sou paralelo
aqui minha porta não se abriu


mas andei a procurar
a isso mesmo
mesmo assim
espalhei o pó em que me fui desfazendo
pelos ares de tantas voltas
mas hoje essa cidade não venta
então deixarei
sou pé
sou perpendicular
em outro passo meu corpo é beat
mas não me interessam
antes a estrada que também não li
fé em si
sou pré
sou perpendicular
aqui a geometria destes versos se abriu
aos que não interessam
deixo pelos
se tudo que soubesse
fosse boca
ouso outros poemas
hoje essa resposta não volta
em qualquer passo meu corpo é dança
então fosse fé
seria assim
feto

não uso porque
a imagem em me abre horizontes diversos
fez em si
enfiou
boca com pelos
deixo você
se antes soubesse
mas também não li
eu sei
apenas do que me trouxe até aqui
a trilha que repito a ouvir
mas qualquer passo desfaz o tempo daquele olhar
fosse boca falaria
mas também não vi
a trilha que repito a olhar
mas já não está ali
meu corpo beat
cada play é eu sei
debaixo de você
seletiva

boca beat porque
a imagem que fez de si
ouso olhar
se dissesse sim
eu sei
outros tempos fosse boca beijaria
boca beat deixo você também
a trilha que insisto em ouvir
eu apenas li
mais que
sei
apenas o que me trouxe aqui
falaria por si
eu leio todos os poemas
ouço falar por essa lógica torta
o caos que fiz em mim
eu a resposta óbvia
apenas repito a olhar
eu rasgo horizontes
mas as barreiras postas
até o fim da paranoia eu sei
boca beat beijo você também
e falaria por si
até o fim pedaços sós
eu apenas ri

sábado, 17 de janeiro de 2015

gosto de quem deixa as janelas abertas
ondula com a música no ar
gosto das janelas abertas
a quem fogem as palavras
tantas palavras
porque gosto de deixar
as janelas abertas
a casa aberta
cheia de vida

a palavra franca
tranquilamente entendível
gosto de quem deixa palavras
como a breve brisa que atravessa a casa
gosto das ondulações da cortina
a luz que atravessa
pequenos orifícios
e deixa na casa calor longo
tranquilamente saio da sala
tantos lugares
as janelas abertas
assim porvir

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

e sigo me privando do depois
o mote mascado grudado feito
coisa que signifique ou dance
depois não quero existir
estendo o tempo de não poder
pra não caber

me sigo sabendo do depois
o foco mascarado dado feio
coisa que dance e signifique
depois peço não existir
enquanto o tempo de doer
pra não morrer

sigo esse ofício como música
o tempo do tempo do tempo
coisa compasso
depois quero girar
entendo essa dança
o círculo na ponta do grafite
pra não perder

o ponto de apoio

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

a noite engole logo o dia longo
mais uma vez estou aqui
a minha voz calada é grito
escrito outra vez a noite
mais um dia estou
continuo escrito aqui
cada noite calada
outro golpe arrasta o dia todo
a minha voz saindo do peito
as palmas que você bate
chama por alguém e ninguém atende
só a sua voz e o musgo na parede
o nome ecoado quase como se não fosse um nome
um chamado ecoado
bate suas palmas

um dia talvez receba
ouve seu nome
chama por alguém no telefone
só a sua voz e o musgo na nota lá
seu nome ecoado quase como se não fosse
uma chamada

domingo, 28 de dezembro de 2014

eu copiei a sua interjeição
esse é o tamanho da minha perspectiva pobre
(afeição refeição intuição gasto todas as palavras que vou perdendo
no caminho)
intercalar longos períodos de silêncio entre conversas
repetindo as palavras
até ficarem alegres

deixa arder
deixa arder
deixa arder
essa é a fase da minha ternura mais nítida
entre conversas inter calo basto
todas as palavras vou vomitando entre longos períodos de
conversas
até ficarem onde estavam
e fui sem calar
onde podia pisar
estava sujo o chão
conversas
)
todos os caminhos
da dança que se inscrevia
porque tudo é dança
em todos os caminhos
que se ousassem pisar
mas aquele tempo que foi meu
aquele tempo era meu
eu escrevia e pisava
em todos os caminhos
pensava o tamanho do calor
meu dedo doendo
meu dedo doendo
meu humor nem aí

onde estava o chão
e o tubo de coisa guardada
condicionada
como era caso de se noticiar
afinal, tudo na vida tem um endereço?
onde vai queimando essa lente
essa lente que veleja o reflexo das
luzes que pendiam
onde vai
condicionada a lente
reflexo torto
como era o caso
afinal
onde eu escrevia
em todos os caminhos
meu tubo de coisa guardada
ousasse escorrer
meu tudo doendo
meu tudo doendo
de ler aquele poema

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

aqui estou eu de volta no depois
letra a letra mais essa distância
vermelha que seu corpo escreve
mas não vou viver de pois
a mover certa vez esteve
letra a língua aqui eu estou de volta
pois a letra vermelha dita
ânsia voo a me ver em mas
e quando volta a mover uma outra tanta
meu corpo mas.
eu escorria aqui
vou aqui de volta
aqui eu estou
ontem esses corações
plantados escorrem no suave medo
de toda vida que se esbarra em pele
e todo esse pouco
que sangra mole
ontem esses chãos
sem mentes fixadas
na própria lida

ontem qualquer coisa sangra
toda cor é vermelha
todo pó é fugaz
essa sua minha vida que
que sangra pele
e todo esse
todo esse

ontem é cor dessa carne
os ramos das veias que nos faltam
e todo esse sangue
todo esse sal e água
imagem agarrada
suba entre orifícios
essa sua voz que me estanca
sem palavras
é o rosto que figura sobre osso
os ramos nas vestes que nos sobram
ontem é cor nesse cerne
onde toda coisa segue
e qualquer poesia é qualquer

que escapa



antes de você ir
acordar aí
desse belo repousar
seus dedos finos
unhas afiadas

antes de você rir
sair
nesse passo caminhar
seus dedos longos
descem

antes você aí
bater de passos
seus belos dedos
unhas rasantes
pousar

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

ficou com curiosidade com o dado zine?



calma-calma, logo tô publicando instruções mais detalhadas e mais específicas pro meu zine!

aliás, esse zine é o começo de uma série
e tudo vai virar um rolezão de educação [em escolas e tutoriais pra fomentar autodidatismo e livre conhecimento]

tudo copyleft/copyfight, lógico!
libre como deve ser
zine open source!
open zine!
zine livre!

.
se você está usando ou pensa em usar pra fins educacionais ou de qualquer tipo, comente aí e entra em contato! estou super curioso pra saber o que você pensa e em como posso contribuir.

o material detalhado será construído como/a partir documentação das oficinas e ações que rolarem nesse sentido. afinal todo código tem que ser comentado.

.
a ideia do origami é um lacre para a leitura
originalmente a ideia era deixar o leitor se fod... quer dizer, deixar a pessoa à própria sorte, na impossibilidade de refazer o que foi destruído para o consumo da poesia [refeição]

mas depois de muito mimimi... quer dizer, muitos pedidos e curiosidade, vi que fazia sentido transformar isso em algo mais rico:
aí além da ideia de associar isso com todo um sentido e lugar performático [o que tenho achado divertidíssimo no caso do dado]
pensei também nessa questão da produção e transmissão de conhecimento

.
.
aqui ó de onde vem o origami:

(engraçado que juro que não tinha visto a imagem do origami de cubo pintado de dado no livro, juro-juro, mas de todo jeito é uma ideia óbvia)

veja o vídeo do origami e saca esse livro:
http://youtu.be/7vXVblyJnqY?t=30s

ficou em dúvida?
ou quer só remontar o zine pra ficar bonito na estante?
https://www.youtube.com/watch?v=_Zq5mqZ2IwI

baixe o livro aqui! :
http://gen ZZZ
.lib  ZZZZZZ
.rus ZZZZ
.ec/ ZZZ
book/ ZZZ
index.php?md5=3B7 ZZZZ
DA5D40AA2CDFCF ZZZZZ
C1812765B06D163
[tirando as quebras de linha e os ZZZ]
[tô doido pra ler]
[pode me agradecer]

o livro na amazon:
http://www.amazon.com/Origami-Connoisseur-Kunihiko-Kasahara/dp/4817090022

terça-feira, 18 de novembro de 2014

que me importa o dia que surge atrás
trazido pelo belo canto de um pássaro
induzido pelos desprazeres noturnos
não me encontro

com o pássaro
que no céu sobe o sol
no pouco que desponta
o tom do dia já demonstra

sábado, 8 de novembro de 2014

eu gosto de ver os pelos crescem como uma árvore
eu solto pelos se amarram uns aos outros como crescem
a água escorre neles pelo meu corpo se enaltece em tê-los
escorrem meus cabelos que crescem sem eu ver
como uma árvore ramos eu não penteio
limpos eu solto balançam no movimento do ar
pelo meu corpo que passa e eu não sou árvore
de solto que sou
escorro na água
me perco no ar

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

ouroboros

com ou sem amores
com ou sem massagens
pagas ou pedidas
apertadas a levíssimas
todo ponto que à espinha chega
encontro de pele pressão
como existe sexo e masturbação
com ou sem
com ou sem mais nada
tocarei o toque
serei massa e pancada
superfície e estaca
solução ou suspensão
encontro do próprio encontro
encontro do próprio caminho
escultura do próprio toque
e esticar



quarta-feira, 5 de novembro de 2014

dessa peneira

eu batizei minha máquina e dei seu nome, então ela disse o que passa dessa peneira não importa e penso que. que tudo é fluido simplesmente. em um breve passeio eu me perco e a pior viagem foi quando fui trabalhar no feriado: bem, ela disse dessa, peneira não importa e penso. como tudo é breve passeio.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

agora você nada em minhas nuvens
sou o que você quer
perdida entre tropeços
o tombo que não levo
aí você aqui
agora você nada
sou enfim um fim suave
entre rangidos e passos
nem de dentro nem tão fora
agora você afoga
até agora onde você não se acha
uma concha sem eco
sem toque nem afago
agora você peixe no meu azul



(10 de outubro de 2014)

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

sem tamanho

eu já dei nome a todos meus desesperos
vai entender.
é bem por aí que costumo buscar
todas essas palavras enterradas
signos antigos ainda por decifrar
em mais cem anos aqui nesse quarto também fantasma

eu já dei fuga para todas as minhas culpas
vai saber.
é melhor que medir esses sete palmos vinte e três andares
todos esses costumes que se usa brincar
signos do zodíaco ainda sem acreditar
em mais sete de doze meses aqui nesse quarto também

pulo

nesse outro céu alto também
desse prédio do outro lado em todos subi
é assim que ouso voar, estarei
é bem por aqui que costumo ficar



You’re Lost Little Girl by The Doors on Grooveshark

sábado, 4 de outubro de 2014

escombros

[um sonho de pássaro sobre um sofá céu azul]


um dia alguém me perguntou qual era meu sonho
eu, que nunca sonhei, não respondi
remoí
ruminei a resposta breve que precisava
eu que não lembro meus sonhos quando durmo
não sabia mais tanto sorrir
eu que precisava viver
envivei a mensagem nessa asa
minhas penas cortadas já renasceram alguma vez
pois que penso enquanto não durmo
minhas sombras regadas uma vez já foram podadas
um detalhe sobre a minha casa
é que uma placa de não estacione virada é um símbolo de não existe
eu que nessa alegria, quando tudo desaba
demorei
mas parti pra uma nova vida de tudo menos pensado
o que sou além de espaço?

minha cabeça leve pensava poesia enquanto pulava
que fazia a pequeneza do meu frágil gesto
enquanto era fácil esse ar, me deslocava
mas não podia pensar, pensar pesava
uma vez entre outras me deixei cair
meu dentro leve
podia enfim descansar
naquele cobertor macio
minha vida uma vez mais cortada
que em cima um azul
que precisava precisava sorrir




sábado, 13 de setembro de 2014

a planta reguei tarde demais e você já me perdeu
passei ao seu lado
via o rosto longe
contava as luzes
frigia

ali naquele espaço repleto de palavras e plantas mortas
fiquei ao passar
via tantas faces
convidava as chamas
urgia

foi que peguei esse fio pelo rabo
de palavras e palavras e palavras
que desciam sem dar cabo
misturadas nas fezes
dessas vidas
tão longe
fugia

foi o que eu pensei
ainda fico aqui a amenizar
pouca água no solo seco sem
vida senti que era fim
foi o que eu aqui
via tantas luzes
ardia o foco
do passar
alucinei
de palavra em palavra
pelo fio enrolado nem tecido
que sem dar cabo
misturadas nas vezes
fezes e o que sobra do lixo na rua
onde pisar escorrega e fede
pouca água no beco na esquina
foi o que pensei misturado nesse recado
ainda fico aqui sem pensar
da palavra a palavra até a planta

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

o grande rato passeia livre
devora e vomita resto sob a terra
o grande fardo do cimento e da via
acima da casa que existir incomoda
o grande salto que voa livre
à frente do asfalto pintado todo
listrado
a grande casa passeia
demora e salta por baixo
rizoma e volta do outro lado
caminhos inexatos
o grande labirinto circula
fora das vias sem danças
verdades de trânsito

sábado, 6 de setembro de 2014

caos

o tempo é fatal
tudo que tem que se propor
é a enfrentar esse medo
suposto ir à frente
onde quer
e tem que desfazer cedo
como der
dar um passo
nesse medo
antes do tempo
tinha vislumbre
e visão
o tempo fractal
que se repete em mil naves
a estragar esse mesmo mundo
suposto passar pra frente
onde erra
e tem como fazer tudo
mas erra
e tropeça entropia inexorável
mesmo esses cacos
nesse medo
antes do tempo
mero vislumbre
e paixão

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

e me encolheu a ideia
que não tinha que pensar antes
era eu no lugar dela?
elegância sincera
bem, não era assim.

fui eu
poema solto no meio daquele nada
por pouco não pensava mais nada
que cansei de esquecer de esquecer
naquele jeito
era, bem, não sei o que dizer assim.

pegava que nem
que nem era nada
daquele jeito tinha que ser alguma coisa
por distração que era
tinha que chegar antes

nem na pista antes era assim
isso eu já não tinha como saber
por pouco não perguntava
ali poema era eu
doendo desse jeito
que cansei de tanto pouco

mas aí perguntava assim

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

senhores

senhor candidato
no jornal entrevistado
por bestas feras do jornalismo
outros senhores
cheios de sagaz patriotismo
todos querem o melhor
para todos
ou não

senhor entrevistado
no jornal meio cercado
por perguntas inteligentes
senhores,
todos querem paz
mesmo os adversários:
outros senhores
uma palavra então
no jornal provocação

senhor observado
cheio de sagaz argumentação
no jornal fica bem filmado
rosto maquiagem capitalismo
todos fazem melhor
cheios de sagaz altruísmo
bestas feras do país
que sabem governar
ajudados por outros
senhores,
todos querem mais
todos querem mudanças
por isso dão tanto dinheiro
tais senhores
pecuários, construtores e cervejeiros
açougueiros, empreiteiros e industriais
carniceiros, desocupadores e exploradores
os maiores doadores
para estes e outros
senhores

senhor ensimesmado
herdeiro mentiroso
frente à câmera sorridente
fazendeiro ambicioso
mostra os dentes
faz sua pose
tenta ser visto como
político inteligente
embora prepotente
inadimplente ex-senador
interesseiro poderoso
besta fera do interior
ao fraco fogo e sangue
tradicional conservador
mas todo dia apronta uma:
incompetente cheirador
nas rotas no ar das minas de pó
justiça comprada
imprensa vedada
fala aveludada
esse familiar fanfarrão escandaloso
contra o tráfico a varejo
mostra os dentes
este aqui é perigoso
e são até muito clamados
mas fácil se vê quão cínicos são
estes seus valores
tradicional besta fera
desses tais interiores
que só se comporta mesmo em
uma conversa entre
senhores



quinta-feira, 7 de agosto de 2014

eu preciso ser meus reflexos
preciso ler meus tédios
medir meus pesadelos que não lembro
eu preciso ser em meus reflexos
viver entre esses prédios
passar os desassossegos que me vêm
eu, preciso ser em meus reflexos
e que vivo sem remédios
desistir meus passos que repito

quarta-feira, 30 de julho de 2014

os confetes espalhados no chão

o tempo brilha a mesma imagem brilha
essas letras brilham
meu tédio sem depois
onde vejo cair sem cor
onde o chão espera

eu sem essa dor
com essa cor
sem tempo brilha

quinta-feira, 10 de julho de 2014

eu escrevo nesse caderno rasgado porque não tenho outro
falo dos dias, do tempo e das pessoas
cadencio minha conversa conforme a respiração das palavras me exige
é que as coisas que estão me acontecendo não são normais
e eu preciso respirar pra saber se ainda tem ácaros na minha sala
os pulmões são dois balões molhados
o resto é estômago me afago nem chego perto
pois escrevo desde esse tempo em que minhas respirações eram mais curtas
portanto as páginas também
mas o arame enrolado sempre torto e amassado

comprei no mercado central uma peneira de aço inox que serve também para pescar alevinos
um sonho me disse isso
ou memória de tempos ancestrais achados de primeira infância
um sonho de nadar dentro de trilhões de alevinos
comprei também café que saía da máquina
na hora
e deixei todos os cheiros me tocarem
firme para não me carregarem
de acordo com que aprendi nos desenhos animados

eu elejo esse caderno imaginado porque não vou comprar outro
falo do tempo, das coisas e das conversas
não tenho tempo para perder com confusão
cadencio minha ansiedade à medida que vou roendo madeira na boca
 é que a respiração que as palavras me exigem
 é que faz a conversa perder esse fio
 e que me desvio completamente no meio-
impulsionada por tantas ideias a rua continua até ali depois vira à direita
e que me viro seguindo o fluxo

dos carros
dos vagões
das motos atravessadas nas beiradas e miolos
dos tempos
das mudanças que o poder público impõe

eu que me viro e sigo seguindo
continua meio feito meio feio
mas ali no passar do tempo
sento e escrevo das coisas nesse papel papo rasgado porque não tenho outro
eu pensei que as vezes eram mais curtas
e que comprei no mercado canivete torto
com o que vou rasgando todas as cortinas desse sonho doido
porque não tenho bica d'água na minha esquina
e não tenho tempo pra caçar filhotes de bichos que não me fizeram mal
mas vou roendo o café na boca
e deixei todos os dias curtos me tocarem
pra saber se saio mesmo dessa máquina
já que os dias estão corridos
e não tenho tempo pra ficar perdendo com bobagem
mas faço ainda questão demais de quem é pessoa amiga
mas impulsionada por essas ideias aprendi a lidar com o que não queria
é um alívio atrás do outro cada limpeza

que o poder público impõe
corpo podre cidade sem fluxo
tantas bolhas nesses tempos que fujo fujo
deixo as máquinas me cortarem
os fios curtos que trago no limbo
e depois de todos esses tempos
faltam ainda beiradas pros ritmos que sigo cortando
eu nessa cadência me confidencio
quero mesmo é descanso e que não me façam mal

pego o que o podre poder repõe
corpo trôpego a trafegar cidade
tantas máquinas que no tempo fujo
deixo os fios me atravessarem
desligo e sumo
faltam ainda nessas beiras tempos que sigo buscando
eu nessa coerência me distancio
quero mesmo é descanso

eu escrevo nesse caderno impulsionado
descrevo os medos que vivo
desejo que não façam mal a quem é amigo
não fujo mas determino meus fluxos
comprei marcada a coisa de metal
pra sair contanto os furos nessa bolha abissal
eu que não tenho tempo pra ler tanta bobagem
escrevo nesse caderno amassado


sábado, 5 de julho de 2014

rastros

o rapé na mão
o rapé me mostrou que a limpeza começa de dentro
a planta mãe me mostrou como se faz
a planta mãe dupla nascida separada
juntada no ritual de fogo e água
eu que sou feito de fogo e água e ar
eu que sou juntada por todos esses signos que carrego
a planta mãe doada

eu que sou feito de pegadas
pedaços que deixo no caminho
por todas essas fumaças sopradas
a planta mãe nascida separada
eu no ritual do caminho
passo
o rapé no meu corpo
o pó de toda estrada que se agarra a minha pele
eu que sou todos esses signos em que me apego

o ritual forjado de pedra lenha fogo
por todas essas jorradas
de tudo que se deixa
o corpo em seus significados é sábio
desapegado de quase tudo
seu acúmulo de detalhes
deixa muito mais passar do que retem

quinta-feira, 3 de julho de 2014

desde aquela vez, passado sem medo, foi preciso correr pra se sentir viva
a imensidão daquele olhar que percorria através, em volta como ar na asa do avião, através da frase
através do pescoço o ar e a mão que o levava
foi preciso correr muito pra sentir o ar pensando que fosse vida
mas aquele chão que a empurrava de volta não dava caminho, não levou a nada
como podia ser tão vaga e ausente?
e esperava tanto, ainda assim cobrar
era lindo o afeto que a cercava, mas talvez fosse exatamente isso, o cerco
a falta de alternativa
vida
desde quele tempo, passado remoto, foi preciso cortar uma garganta para ver
a intesidão daquele sangue que percorria por fora, por cima da pele como o toque antes daquela fase ruim

foi preciso dizer que se empurrava o caminho
mas talvez fosse exatamente isso, uma narrativa sem medo
foi preciso cortar algumas amarras para ver de volta se dava caminho
como podia ser tão vasta e difícil?
esperava tanto, que ainda mais se cobrava
era medo, culpa, o lindo afeto ausente daquele medo
mas talvez fosse cobrada demais
foi preciso dar explicações que não cabiam
porque não era possível admitir que nada sabia mesmo de si
que esperava a bifurcação e nenhuma escolha era tomada sem que um pedaço seguisse para o outro lado

foi preciso pensar precisar de um trago
mas talvez fosse escolha maior que isso
pois nem pinga nem tabaco em papel branco ou palha
podiam tomar conta do vasto mundo que desejava pra si
sem poder tomar
sem poder sair
era culpa, incutida, o lindo afeto de seus pais
mas talvez fosse aquele medo
e esperava tanto, ainda assim era ausente, vaga
foi preciso correr mundo, correr com medo
correr com esse medo pra outro lugar
foi preciso soltar as presilhas, o zíper, tudo que não cabia dentro de si
sabia que era um pedaço solto, com pouca vida mas que era preciso viver
se um pedaço a mais seguisse, que assim tocava então a não existência
a minúscula parte que se dissolve quando se divide tudo
pois sabia de si
foi preciso dar voltas em torno daquilo, se espalhando pela vida
talvez, desde aquela vez, foi preciso saber de si

sábado, 31 de maio de 2014

eu preciso escrever muito para metabolizar os acontecimentos
por isso escrevo, por instinto de autopreservação
eu não sei o que eu quero quando abro um espaço em branco e começo a preeencher em letras em vozes em tamanhos sem cabimento de mim mesmo a leitura sem fim
o abismo
a página em branco, toda tinta é uma procuração à página e a você
eu pensei em escrever muito mais sobre isso que aconteceu
mas em vez, prefiro ir desvendando como cortinas que corto uma a uma ansiosamente
a você, espaço em branco que preencho minhas letras
cuspo uma a uma minhas aflições
lembro as suas, às suas lembranças
o nosso encontro
eu preciso escrever tanto e me mostrar, como sem cabimento pode um trecho dentro do idioma
a você, que não me preencho nessa lista
desabo noites a risca, nos riscos, nos toques é que toda poesia é feita
eu podia acreditar, mas por isso escrevo à risca

eu posso em você descontar a lida de dias e noites mal dormidos
toda essa angústia de quem não aprendeu a viver
acontecimentos, qualquer coisa que se diga
mas a tinta, toda tinta é caminho ao abismo da próxima página:






eu preciso dizer muito para compreender
por isso devaneio, por isso instinto em que preservo meu rito
eu sei o que vou querer quando estiver no meio de mim
no meio do poema
toda linguagem é passagem
cuspo uma a uma meus pesadelos
a você, ruído por trás de tudo
puro no seu ouvir passivo
eu preciso morder, por isso corro muito para atravessar
a página em vão, outras virão

mas a você, em você confidencio minha mentira
a que vivo, a que escrevo e a que fica no meio
cuspo a você uma a uma as páginas em branco que teci meras linhas
é muito mais atenciosamente que vou desvencilhando a hera que se prendeu no caminho
afinal, o nosso encontro, é tudo passagem
seus olhos que se prendem milésimos de segundo em cada palavra
reconhecem o idioma, e preciso escrever tanto, viver é prolixo desmedido de repetição
a você, atenciosamente desviro, desvirão outras tintas, outros pesadelos

é preciso estar em você, a você teço essa ladainha revirante
mas a caminho, qualquer coisa é descoberta, se passa
se desce a rama formada pelo que foi deixado
viver
mas se é a caminho, movimento, o traço-registro faz do poema algo não pior que o abandono








[dedicado depois de escrito e lido pra matheus matheus]

segunda-feira, 5 de maio de 2014

agora as meias já se desfiam sozinhas
coisa que eu enxergo com olho míope
antes retirava os elásticos e amarrava objetos
retirei você da minha vida
não tem mais espaço
deixava cair
até travar
era plástico
era elástico
resiliente

agora as coisas são velhas
como se já tivesse passado da metade da vida
a perturbação é questão de tédio
como a dispersão da poeira
antes me queixava
ou chorava mudo quieto
até cair de vez
era lástima
era lágrima
persistente

segunda-feira, 31 de março de 2014

espalharam seus nomes como se fossem ser esquecidos

precisa escrever?
e todos esses desenhos que se formam sem rima
na retina.

tem que descrever, não tem
todos esses contornos expulsos que
forma da rima
forma do som
forma do ritmo
forma da música
              poema

trabalha todo dia e vê jornal
ritmo é o trabalho que dignifica quem lucra
tem tempo, mas não é seu, lhe tiraram. mesmo assim
precisa pensar
precisa lembrar
precisa lembrar
exato e crítico

precisa entender
se diz
toda essa semântica caótica semiótica sem rima
a mídia capital governo
as mentiras repetidas e ostentadas
a realidade construída, seu pilar é coluna em dor
vertebral
a mentira plantada
a realidade plantada
projeta suas raízes que sorvem o sangue dos que não são vistos
profunda e baixa
em uma sala fechada ou na rua aberta
momento certeza
nada mais real
nenhum sofrimento é maior que a dor do corpo

a mulher e o porco lhe toca
num lugar escuro
o abandono na vida
desespero

o bebê adoece o mundo absurdo do seu suicídio

hoje ontem amanhã
prendem e dominam os signos
hospital escola praça rua ponte viaduto
elevado
erguido tanto concreto para homenagens covardes
pode mudar o nome
mas quem tem a arma ainda a aponta para a esquerda
pode tirar o nome
mas ainda levam a filha

o simulacro só muda seu nome
a dor que não é sua
que não se compara
nem em forma nem em tempo
a vida segue
e é levada para averiguação

quem pode manda
quem pode compra direito
humanos direitos
humanos, direta, conservar seu conforto fabricado entre lágrimas e ossos
humanos

matam e torturam ainda, mas não é seu
problema de quem
militares garantem a segurança:
democracia, te batem e estupram no quarto ao lado
matam e mandam
no morro onde voltam com medo
todas as pessoas que lhe servem
é mais fácil pintar o monstro no rosto de quem não tem voz
a liberdade é calada, parada e estúpida

precisa chorar esse sangue?
não precisava
não podia

não é coisa brinquedo pra falar sem medo
não é coisa sem enredo
não, aqui tudo rima medo
não, não mais sujo segredo

domingo, 30 de março de 2014

corro cego afogo busco uma solução pro que já não tem
tropeço corro caio levo uma busca pro consumo do momento que lá em vem
desço trocentos degraus diante do que não tem fundo sorrio e depois choro só
é o passo que tem no caminhar mambembe de não ter muitas responsabilidades
mas vagabund soy jo y quem me ensina a nadar são os peixinhos
que se pintam delicados nessa porcelana que não sei como foi feita

quinta-feira, 6 de março de 2014

A cerca da fronteira que espera no fim do suposto caminho

o tropeço no arame farpado é fatal
pode correr correr
pode correr, mas o tempo corre sempre

pode correr o espaço todo de um lado pro outro
todos os três eixos convencionados
se submetem passivos à plena exploração
pode corroer essas escolhas todas
no caminho escorregadas

             mas o tempo corre sempre

pode ser,    mas o caminho é escorregadio mesmo
pode doer,   mas o corpo já caiu

o tropeço no arame farpado é letal
nada ledo engano

pode ter,    mas o que se tem é engano

pelo tempo que se perde
o encontro é pausa
o tempo é pelo tempo que se perde

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014





destruída esperava: quieta, calada, parada
no banco que não tinha fronteiras
todos os textos decorados na pele
ensaiava dentro
sair de si






























 [texto de Cristina Martins, coisacristina
desenho de Borges Raff , tirado de um zine em processo
música de Moraes Moreira
dedicado para as batatas]

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

facho

urgente pede acordar, descer, parar
a cidade dança
a vida demanda menos complicação
é clara luz como dia
chega sem pedir não pede quer simples
chega a luz desse dia de fora do alto
chega sem permissão sem remissão
a luz desse alto urgente pede acordar, descer, ir
a cidade demanda música
a vida diz menos complicação
não pede, entra facho desse dia luz, sol
urgente é acordar, ver, descer, parar

manhã acordar um dia desses
a cidade dança
a vida pede menos emoção, mais comoção
nessa cidade agitada
é clara como a luz do dia
turva nos intervalos
a cidade reclama buzina sono vidro fosco

café e olha o céu
a vida-dança
plantada nessa luz
acende com as pessoas dentro

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Mingus

agradeço numa prece à humanidade pelo jazz
seu toque que ouço dessa janela
sua expressão que imagino

agradeço ao jazz
que seu toque me causa pele
nesse som, que desatino
sua expressão que imagino e sinto sem rumo
nesse toque da janela
a chuva que se joga aqui nessa transparência
veio vindo com a noite marrom
e deixou um perfume de sândalo sem pensar

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

eu até tentei lembrar
mas esqueci tudo
ia terminar todos os poemas que deixei abertos
em papéis grandes e pequenos espalhados por aí
ia terminar tudo, mas esqueci tudo
esqueci até de tentar
eu até pensei em lembrar
mas os versos vêm na minha mente e eu sou um apanhador de borboletas
nas sacolas que amarrava nos paus
corria todo o terreiro-quintal-pomar
mas esqueci de quase tudo
todas as portas que deixei abertas
o gás, a pia, a sujeira
podia terminar tudo e por a data de hoje
podia por atrás da porta, ninguém lê poesia mesmo
a poesia será sempre esse emaranhado de objetos que dançam tentando nos apanhar?
esqueci quase mudo
o que ia fazer
de escolher, se era pra saber
onde estava, até tentei esboçar um porquê
tímido, verdade
mas esqueci de tentar
ia terminar os olhos que deixo abertos
sem começar
ia terminar o som do que comecei
deixei parar
as coisas todas que tocavam escorriam pingavam de letras como essas
podia por atrás da porta, embaixo do tapete, em cima do armário
embaixo da cama
uma por uma
as fotografias
as coisas todas
perfumes
apertos
aperto
aperto

 perto


 perto




 perto
desse poema torto que não esconde seus musgos escorregadios, indiferentes
o tempo e a entropia não respeitam as visões ardentes da planta: não volta

um vidro que se estilhaça e cai

a cada lágrima que cai

digo desse poema todo
me faço mais um pouco doido
por dentro dessa coisa morta
mas os versos vêm na minha mente diferentes e eu não sei lembrar
mais dessa coisa torta, nesse emaranhado
tantos versos deixei passar

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

o cheiro de sexo,
a carne molhada dentro,
o toque,
o traço-toque num gesto sem palavras,
tanto-tempo desejo, se vai, vai mesmo com preguiça,

a urgência não é o enjôo o sono o soluço, hesita
desejo dança persegue não escuta te-quero-mais
com carícia, o cheiro do sono, a carne morna, sem nada
sou nada, escuta mas se desaperta
com seu olhar
no passo, sem foco
escrito na carne viva no corte
o cheiro do sexo,
num sono molhado,
te desejo meu desejo num traço num toque num desenho
tanto-traço prevejo, se liga, mesmo que não queira assim
o que quer não existe, não hesita, o cheiro do toque
num raro momento
seu desenho seu desejo
o pé seu passo percorre corre te vivo no corte
o cheiro do suporte
te passo, no corpo não erra minha mão
escrevo a urgência de palavras coloridas
nesses dias quase sempre tristes
no escritório, na carne fria, no corte

o cheiro da fome,
o sono do sono,
a carne moída dentro,
já num traço-corte sem arranho,
tanto-tempo perdido, que não se acha mais

sábado, 18 de janeiro de 2014

Por que você faz poesia?

Muitas questões sobre como essa liberdade de interpretação que a poesia traz são mais facilmente mencionadas, quem gosta. Mesmo quem acompanha como uma espécie de diário freak ao vivo, assim na carne crua, sei lá, será? Todo mundo se expõe de certa forma o tempo todo. A questão é simplesmente como você quer fazer isso, se quer e o que. Afinal nos comunicamos e é urgente a nossa movimentação e posicionamento no mundo em que vivemos, que é profunda e dementemente violento e opressor. Mas é muitas outras coisas também. É preciso respirar, é preciso agitar as ideias dentro da cabeça como um caleidoscópio, cê vê coisas bonitas mas são apenas padrões geométricos coloridos. Mas cê enxerga. Não tenho medo de narrar os fatos cotidianos, e os outros nem tanto, isso é o circo da vida mesmo: tanta coisa, pulsação, as pessoas gritam, mordem, riem, cantam, gemem, de frio, de medo. Tolice quem acha que onde ponho minha poesia deixo coisas pessoais como narrativas confusas, convulsas, longas. Deixo mesmo são pessoas, todos meus pedaços, e de quem mais encontrar pelo caminho, deixo pessoas, às vezes é consideração às vezes nem tanto, deixo rastros, cheiros, trajetos, me ponho por inteiro ali e muito mais. Mas você não vai saber o que fazer no final. Eu faço minhas perguntas e as responto. Minha poesia é atriz vulgar sem sombra sem rumo sem lastro muito menos âncora. Escrever é um fascinante e profundo exercício intelectual. É um exercício de observação da linguagem obsessivo, difícil, exigente, tiros no escuro que a gente fica dando a esmo. Tem muitos sentidos mesmo, ou nenhum. Tem sentidos demais na prática da escrita. Recorro ao próprio texto, sua estrutura, é ritmo, é textura, às vezes é só isso mesmo-textura, é recorrente, mas não é, é mais, escrevo poesia porque danza. É meta, é mera coisa, mas é um pedaço metâmero. Eu ponho aqui tudo que sou, ponho o que sei, ponho a engenharia que escolhi de ofício, ponho os meus amores, meus mares e meus buracos, porque isso é substrato. Mas não é narrativa vulgar nem um nada, é um quebra-cabeças sem fim, cê num vai me achar aqui. É metalinguagem a níveis enormes de recorrência. Por exemplo, rediscutir o papel da língua como ferramenta violenta de dominação: cê interfere numa regra das normas da língua aqui e ali, ora acidentalmente e deixado, ora por desconhecimento, mas quase sempre pensado, aquilo faz parte, mas é pessoal também, é orgânico, é meu sotaque e meu lugar no mundo minha linguagem. Poesia não é coisa mansa. Escrever é provocação. Escrever é tesão: precisa atenção. Senão perde o fio. Minha poesia é atriz e personagem no circo da minha vida e de todas que se entrelaçarem nessa ciranda descompassada, que suspeito cheio de evidências que leva ao mundo inteiro. Ela é quem amamos, quem amar, ela nós amamos e eu fico só. Escrever não é dual, é fractal.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Hoje acordei cedo e me deu uma vontade fazer algo que eu já estava me prometendo há muito. Peguei um microfone velho de telefone e soldei em um conector de fone de ouvido quebrado. Comecei a gravar o Livro de Papel da Adriana Versiani, por exercício de gosto mesmo vou gravar tudo, se a recepção for boa posto o resto. A Adriana foi uma das poetas que mais influenciaram minha escrita. O Livro de Papel é um livro tão bonito e absurdo que dói, é bonito e dói em todos os sentidos. Então é difícil demais de fazer algo desse jeito, fica como consigo, com muito carinho. Chegando no Facetruque tive a grata surpresa de que hoje é o dia dos anos dela. Acho que é um bom dia pra contar isso, espero que goste, senão que perdoe.

Com vocês, Livro de Papel, primeiros pedaços:

https://soundcloud.com/marcos-assis/sets/livro-de-papel-biografias-de

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

sonhei que cê tinha escrito uma coisa pra mim
sonhei um trem mor difícil
e cê veio lem casa, mostrar, contar como tinha sido
mas foi tão rápido
sonhei que cê subia um ônibus
dramático
em um quadro
era tesão sem consumação, sonhei que eram muitos reais
sonhei que cê tinha escrito um trem difícil
cheio de versos
era queria, queria toque, queria o toque do poema
sem drama
mas foi tão rápido, mal deu pra brincar
foi trem sem sem
lá ia, trem, pra casar
na casa, cozinha, era trem que queria, mas sem sonho
nuvem
sonhei, cê disse um trem mor difícil
cheio de versos
lá em versos
nossa história
quando chego, ligo, aviso
mas queria mesmo ter entrega
ali naquela chance
dar um treco, esteira, era, foi ali pra além da vontade
queria, era, consumia, que coisa!
tecia num ônibus
imagem que lembrava
pensava
até chegar em casa
cê tecia um ônibus, queria tanto dar e não deu.
algo devia ter me avisado
era um trem mor difícil mesmo
cê me avisava, nada, nadava, era um trem difícil mesmo
ainda mais pra mulher
era um trem que dava, dava pra ficar
chegou uma hora e tive que ir
mesmo, nada era pessoal
chegou uma hora e tive que ir, mesmo, desculpa, não leva a mal
mas cê escreveu um trem mó bonito
n'era nada disso
cê escreveu e dava pra ler
era tanto trem
ainda mais que dava pra ficar
não era hoje
era bom ficar com vontade
mas era nada disso
era bom entender e ficar
até chegar em casa
nessa coisa difícil, que era nada disso, mas era bom nessa vontade
foi coisa, nessa de ficar sem ir, trem mais bonito

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

instantes não esperam a dor que passa mas não se esquece
tudo que mais fiz foi esperar
tem dia que começa ao contrário
torto, sem sono
esquisito, pastoso

nove horas piscando relógio
as formigas vão tomar tudo
pequenas vão comer tudo
são agressivas, vorazes

todo: sonho, não há meio nem fronteira
não acordo, não há acordo, não a corda, não há fronteira
hoje simples dia subo
seja sombra senha sempre
não mordo, sobro, não sou, sombro, detesto ir e ficar só, assim por do sol,

passou rápido
logo perdeu, subiu, voltou, desceu não se sabe mais pra qual lado o tempo passou
minguou-sol
passou logo, mal deu pra ver
logo ganhou o céu, seu, fácil assim
logo perdeu, sem cerimônia

o rio passava lento
deixando marcas na poesia de quem via
logo passou também

no cerrado o vento leva amor
bate e te chupa da pele assim seu amor, leva embora seu calor
quando é dia frio
no alpendre vejo o dia morrer, cigarro de palha, chupando limão que é bom pro estômago
todas as terras são irmãs
minha viola me esperaria, minha companheira
virou também

não morro, sono,
dez instantes
não sono, imune

e as pequenas-ninas vão te comer todo
são agressivas, vorazes
perturbam seu sossego, devoram seu de comer
no alpendre vejo o dia deixar
todo tipo de insetos
que afundam, plantam bernes em minha carne

como planta afundo a dor da minha carne
a que sobrou, atacada pelas formigas
conto uma história nova mas sempre volto ao mesmo ponto
o ponto da dor.
o ponto cruz do forro vermelho-xadrez da mesa de tábuas desalinhadas
decorei o nível de cada tábua da mesa
sobrou o horror das formigas
várias espécies com suas picadas ácidas. fórmicas. aqui nessa cozinha invento um novo motivo pra existir.
ainda não, aqui não, gole de café, aqui jaz.

e suas picadas óbvias, sobre a fórmica
suja melada
e suas trilhas que passam lentas
se comunicam como moléculas atentas
vão dar não sei onde
em seus labirintos aqui nessa cozinha.


ainda não, olha lá, olha aí, presta atenção
aqui jazz, seus humores, ainda não, logo ali
aqui interpreto uma peça de poesia, grito minha voz-silêncio no seu ouvido mudo e óbvio
aqui meu ar é essa visada, esse azulejo frio nesse dia interno, interior
aqui é vida que inventa um novo motivo pra comer
agora é respeitar a planta como quem treme ao mar
deixar levar embora a garrafa que contém a última essência de si

aqui sobre as madeiras cobertas de fórmica
suja melodia
e suas trilhas que passam uma após a outra

é melhor levantar
deixar a poeira que se acumulou ao longo das eras
deixar o conflito devorar a si mesmo
num sonho sem fim nem ciência
onde assombra a parte final do gesto
um gesto largo de limpeza
pois é melhor levantar e estar firme ao chegar
aqui não, olha
é melhor andar
hoje sobro dança no olhar
o ferro velho
o trem de ferro
a maria fumaça
o forro no teto
enfeitiçado, embolorado
a dança das luzes e dos insetos
não danço não
decorei o céu desse buraco erguido
é melhor andar e
não sei onde vão dar as trilhas
sou morro, só nos
instantes
não sonho, insone

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

desespero é não saber voar

eu era todo corpos e olhos, alheio
estive aqui ali todo o tempo sem saber
esperando de boca aberta, braço largo, espera
era em tomos que lhe dava suas cartas
ao pé da mesa em que escrevia
eu era em pé, a pé, de pé?

estava aqui ali dizia sem dizer
conversa muita
vai ver fui eu

esse balanço foi só na ida
subi subi sem tchau
fui ver tudo de cima [vertigem [não [não
mais longe que qualquer distância caminhável
mais alto que todos os passarinhos que conheci no caminho

que me sentei rápido demais nessa gangorra
era todo alheio
fazia pouco, menos que o mínimo
era eu ali pintado e tecido
era todo corpo e desejo
sem deus, sem dó, sem graça
esperando de boca fechada, engolia, espera
era de tempos em tempos que acontecia
ao par na mesa em que olhava e beijava
era eu em pé, café, será?


fui espinho no corpo-junto dos outros
era chato, batido, áspero: forma, insistia
fui nessa de ir sem tchau fui nessa
estava ali sem paciência também
o ritmo vinha sem força
era assim, todos corpos, olhos e afetos
esperando louco aberto-fechado angústia frágil conheci sem caminho
talvez não importa mais
se é assim que seja


fui nessa ida sem saber
sub ida frágil fácil
súbita, puxo
onde está?
onde está seu desejo, seu corpo, seu toque contato contanto que seja amanhã, não hoje, não outro dia
suas asas cortadas, colecionadas, mil vezes lagarta

fui nessa vida sem poder
coisa insignificante obcecada
era todo apelo
ali, meu desejo que não entendia
o grande rolo das pessoas modernas
era ali
onde tudo seria possível
combinamos outro dia
a urgência que podia esperar
não queria incomodar
faz como for melhor
como for
era eu ali, todo apelo, sem pelo, sem casca, casa, tomada cortada solta no chão, casa tomada

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

alguns pensamentos
são como poemas
que se gravados seriam
mais líricos que a mais
lírica das canções
se as marcas pudessem
ser entoadas sem
o aporte vaidoso da
escrita. que belo seria
escrever pouco mais é
que estragar. existir:

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

oceano

mais uma vez você virou as costas e foi embora
deixou todo um oceano de desprezo, virou as costas, foi embora
dessa vez foi longe demais pra que eu fosse atrás
virou as costas, pegou uma avião e foi embora
dessa vez você passou de todos os limites
me ruiu, desabou minhas bases de areia, me fez pó de vidro solto espelho da própria impossibilidade em ser
me ruiu, desabou minhas bases, me fez pó, nem se despediu
poluiu minhas lágrimas com seus beijos

dessa vez nada, sempre você transpassa as absurdas fronteiras vai longe demais
te sigo com rancor, afogo como sempre até te alcançar
meu pensamento te persegue em silêncio soluço angústia
sôfrego desrespeitoso odioso perverso
me diz cruel e vou sendo:
afogo atlântico de tristeza e loucura que você fez caminho sobre meu corpo
como teve coragem pra tanto
se não posso não te peço
mais uma vez você me irou
me amarrou centenas de toneladas
e me deixou afundar simplesmente
te espero quarenta dias e noites
no fundo denso abissal
dessa morte fátua turva e sem luz
sem senso sem penso
que aponta na unha do dedo
uma fresta de dor que rasga a garganta
por mais que a esconda
não me traz seu abraço
aquele que você negou ainda aqui
como teve coragem pra tanto
te escrevo todas as letras que
antes vivia na sua pele
te escrevia todas as peles
antes nessa poesia de vida
meus maiores poemas toques
antes nessa mixaria de vida
estrangulado por um pedaço de ritmo
antes nessa loucura
sua presença, sua ausência
seu descaso foi demais

domingo, 8 de dezembro de 2013

sou signo-significante que só fala em códigos
sou elíptico, no palco, magnífico
sou sujeito horror da própria voz do próprio gesto
corpo definha seco no sol do meio do dia da cidade
a pele e seus espinhos
harmonia que muda no meio
a vida distorce e espedaça minha coluna
a cidade suas cidadãs: cada parte cada pedaço
sou, com efeito sei quem sou
não minto, não força, me deixa

na beira do nada, profundamente admiro e pulo
no pedaço de todo susto
que parado vivo

vagalume, ca(n)tador de palavras

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

PROIBIDO LOCAL NESTE LOCAL

gosto do silêncio confuso que
fica no barulho entre as mesas
do bar. acho que é difícil
quem será quem virá quem será agora?
a essa hora
mistura, evapora, bom-boteco
se meu problema fosse esse seria outro
espero e apareço
quando quero

proibida a esperança
nos arredores da pequena vila
escondam as infâncias
do fogo-fátuo-perpétuo desse tédio infernal
rondam as entranhas
em suas tranças
ao prender, petrificam como marfim










metâmero

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