precisa escrever?
e todos esses desenhos que se formam sem rima
na retina.
tem que descrever, não tem
todos esses contornos expulsos que
forma da rima
forma do som
forma do ritmo
forma da música
poema
trabalha todo dia e vê jornal
ritmo é o trabalho que dignifica quem lucra
tem tempo, mas não é seu, lhe tiraram. mesmo assim
precisa pensar
precisa lembrar
precisa lembrar
exato e crítico
precisa entender
se diz
toda essa semântica caótica semiótica sem rima
a mídia capital governo
as mentiras repetidas e ostentadas
a realidade construída, seu pilar é coluna em dor
vertebral
a mentira plantada
a realidade plantada
projeta suas raízes que sorvem o sangue dos que não são vistos
profunda e baixa
em uma sala fechada ou na rua aberta
momento certeza
nada mais real
nenhum sofrimento é maior que a dor do corpo
a mulher e o porco lhe toca
num lugar escuro
o abandono na vida
desespero
o bebê adoece o mundo absurdo do seu suicídio
hoje ontem amanhã
prendem e dominam os signos
hospital escola praça rua ponte viaduto
elevado
erguido tanto concreto para homenagens covardes
pode mudar o nome
mas quem tem a arma ainda a aponta para a esquerda
pode tirar o nome
mas ainda levam a filha
o simulacro só muda seu nome
a dor que não é sua
que não se compara
nem em forma nem em tempo
a vida segue
e é levada para averiguação
quem pode manda
quem pode compra direito
humanos direitos
humanos, direta, conservar seu conforto fabricado entre lágrimas e ossos
humanos
matam e torturam ainda, mas não é seu
problema de quem
militares garantem a segurança:
democracia, te batem e estupram no quarto ao lado
matam e mandam
no morro onde voltam com medo
todas as pessoas que lhe servem
é mais fácil pintar o monstro no rosto de quem não tem voz
a liberdade é calada, parada e estúpida
precisa chorar esse sangue?
não precisava
não podia
não é coisa brinquedo pra falar sem medo
não é coisa sem enredo
não, aqui tudo rima medo
não, não mais sujo segredo
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