quinta-feira, 3 de julho de 2014

desde aquela vez, passado sem medo, foi preciso correr pra se sentir viva
a imensidão daquele olhar que percorria através, em volta como ar na asa do avião, através da frase
através do pescoço o ar e a mão que o levava
foi preciso correr muito pra sentir o ar pensando que fosse vida
mas aquele chão que a empurrava de volta não dava caminho, não levou a nada
como podia ser tão vaga e ausente?
e esperava tanto, ainda assim cobrar
era lindo o afeto que a cercava, mas talvez fosse exatamente isso, o cerco
a falta de alternativa
vida
desde quele tempo, passado remoto, foi preciso cortar uma garganta para ver
a intesidão daquele sangue que percorria por fora, por cima da pele como o toque antes daquela fase ruim

foi preciso dizer que se empurrava o caminho
mas talvez fosse exatamente isso, uma narrativa sem medo
foi preciso cortar algumas amarras para ver de volta se dava caminho
como podia ser tão vasta e difícil?
esperava tanto, que ainda mais se cobrava
era medo, culpa, o lindo afeto ausente daquele medo
mas talvez fosse cobrada demais
foi preciso dar explicações que não cabiam
porque não era possível admitir que nada sabia mesmo de si
que esperava a bifurcação e nenhuma escolha era tomada sem que um pedaço seguisse para o outro lado

foi preciso pensar precisar de um trago
mas talvez fosse escolha maior que isso
pois nem pinga nem tabaco em papel branco ou palha
podiam tomar conta do vasto mundo que desejava pra si
sem poder tomar
sem poder sair
era culpa, incutida, o lindo afeto de seus pais
mas talvez fosse aquele medo
e esperava tanto, ainda assim era ausente, vaga
foi preciso correr mundo, correr com medo
correr com esse medo pra outro lugar
foi preciso soltar as presilhas, o zíper, tudo que não cabia dentro de si
sabia que era um pedaço solto, com pouca vida mas que era preciso viver
se um pedaço a mais seguisse, que assim tocava então a não existência
a minúscula parte que se dissolve quando se divide tudo
pois sabia de si
foi preciso dar voltas em torno daquilo, se espalhando pela vida
talvez, desde aquela vez, foi preciso saber de si

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