segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

eu até tentei lembrar
mas esqueci tudo
ia terminar todos os poemas que deixei abertos
em papéis grandes e pequenos espalhados por aí
ia terminar tudo, mas esqueci tudo
esqueci até de tentar
eu até pensei em lembrar
mas os versos vêm na minha mente e eu sou um apanhador de borboletas
nas sacolas que amarrava nos paus
corria todo o terreiro-quintal-pomar
mas esqueci de quase tudo
todas as portas que deixei abertas
o gás, a pia, a sujeira
podia terminar tudo e por a data de hoje
podia por atrás da porta, ninguém lê poesia mesmo
a poesia será sempre esse emaranhado de objetos que dançam tentando nos apanhar?
esqueci quase mudo
o que ia fazer
de escolher, se era pra saber
onde estava, até tentei esboçar um porquê
tímido, verdade
mas esqueci de tentar
ia terminar os olhos que deixo abertos
sem começar
ia terminar o som do que comecei
deixei parar
as coisas todas que tocavam escorriam pingavam de letras como essas
podia por atrás da porta, embaixo do tapete, em cima do armário
embaixo da cama
uma por uma
as fotografias
as coisas todas
perfumes
apertos
aperto
aperto

 perto


 perto




 perto
desse poema torto que não esconde seus musgos escorregadios, indiferentes
o tempo e a entropia não respeitam as visões ardentes da planta: não volta

um vidro que se estilhaça e cai

a cada lágrima que cai

digo desse poema todo
me faço mais um pouco doido
por dentro dessa coisa morta
mas os versos vêm na minha mente diferentes e eu não sei lembrar
mais dessa coisa torta, nesse emaranhado
tantos versos deixei passar

4 comentários:

lave











metâmero

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