segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

instantes não esperam a dor que passa mas não se esquece
tudo que mais fiz foi esperar
tem dia que começa ao contrário
torto, sem sono
esquisito, pastoso

nove horas piscando relógio
as formigas vão tomar tudo
pequenas vão comer tudo
são agressivas, vorazes

todo: sonho, não há meio nem fronteira
não acordo, não há acordo, não a corda, não há fronteira
hoje simples dia subo
seja sombra senha sempre
não mordo, sobro, não sou, sombro, detesto ir e ficar só, assim por do sol,

passou rápido
logo perdeu, subiu, voltou, desceu não se sabe mais pra qual lado o tempo passou
minguou-sol
passou logo, mal deu pra ver
logo ganhou o céu, seu, fácil assim
logo perdeu, sem cerimônia

o rio passava lento
deixando marcas na poesia de quem via
logo passou também

no cerrado o vento leva amor
bate e te chupa da pele assim seu amor, leva embora seu calor
quando é dia frio
no alpendre vejo o dia morrer, cigarro de palha, chupando limão que é bom pro estômago
todas as terras são irmãs
minha viola me esperaria, minha companheira
virou também

não morro, sono,
dez instantes
não sono, imune

e as pequenas-ninas vão te comer todo
são agressivas, vorazes
perturbam seu sossego, devoram seu de comer
no alpendre vejo o dia deixar
todo tipo de insetos
que afundam, plantam bernes em minha carne

como planta afundo a dor da minha carne
a que sobrou, atacada pelas formigas
conto uma história nova mas sempre volto ao mesmo ponto
o ponto da dor.
o ponto cruz do forro vermelho-xadrez da mesa de tábuas desalinhadas
decorei o nível de cada tábua da mesa
sobrou o horror das formigas
várias espécies com suas picadas ácidas. fórmicas. aqui nessa cozinha invento um novo motivo pra existir.
ainda não, aqui não, gole de café, aqui jaz.

e suas picadas óbvias, sobre a fórmica
suja melada
e suas trilhas que passam lentas
se comunicam como moléculas atentas
vão dar não sei onde
em seus labirintos aqui nessa cozinha.


ainda não, olha lá, olha aí, presta atenção
aqui jazz, seus humores, ainda não, logo ali
aqui interpreto uma peça de poesia, grito minha voz-silêncio no seu ouvido mudo e óbvio
aqui meu ar é essa visada, esse azulejo frio nesse dia interno, interior
aqui é vida que inventa um novo motivo pra comer
agora é respeitar a planta como quem treme ao mar
deixar levar embora a garrafa que contém a última essência de si

aqui sobre as madeiras cobertas de fórmica
suja melodia
e suas trilhas que passam uma após a outra

é melhor levantar
deixar a poeira que se acumulou ao longo das eras
deixar o conflito devorar a si mesmo
num sonho sem fim nem ciência
onde assombra a parte final do gesto
um gesto largo de limpeza
pois é melhor levantar e estar firme ao chegar
aqui não, olha
é melhor andar
hoje sobro dança no olhar
o ferro velho
o trem de ferro
a maria fumaça
o forro no teto
enfeitiçado, embolorado
a dança das luzes e dos insetos
não danço não
decorei o céu desse buraco erguido
é melhor andar e
não sei onde vão dar as trilhas
sou morro, só nos
instantes
não sonho, insone

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