quinta-feira, 10 de julho de 2014

eu escrevo nesse caderno rasgado porque não tenho outro
falo dos dias, do tempo e das pessoas
cadencio minha conversa conforme a respiração das palavras me exige
é que as coisas que estão me acontecendo não são normais
e eu preciso respirar pra saber se ainda tem ácaros na minha sala
os pulmões são dois balões molhados
o resto é estômago me afago nem chego perto
pois escrevo desde esse tempo em que minhas respirações eram mais curtas
portanto as páginas também
mas o arame enrolado sempre torto e amassado

comprei no mercado central uma peneira de aço inox que serve também para pescar alevinos
um sonho me disse isso
ou memória de tempos ancestrais achados de primeira infância
um sonho de nadar dentro de trilhões de alevinos
comprei também café que saía da máquina
na hora
e deixei todos os cheiros me tocarem
firme para não me carregarem
de acordo com que aprendi nos desenhos animados

eu elejo esse caderno imaginado porque não vou comprar outro
falo do tempo, das coisas e das conversas
não tenho tempo para perder com confusão
cadencio minha ansiedade à medida que vou roendo madeira na boca
 é que a respiração que as palavras me exigem
 é que faz a conversa perder esse fio
 e que me desvio completamente no meio-
impulsionada por tantas ideias a rua continua até ali depois vira à direita
e que me viro seguindo o fluxo

dos carros
dos vagões
das motos atravessadas nas beiradas e miolos
dos tempos
das mudanças que o poder público impõe

eu que me viro e sigo seguindo
continua meio feito meio feio
mas ali no passar do tempo
sento e escrevo das coisas nesse papel papo rasgado porque não tenho outro
eu pensei que as vezes eram mais curtas
e que comprei no mercado canivete torto
com o que vou rasgando todas as cortinas desse sonho doido
porque não tenho bica d'água na minha esquina
e não tenho tempo pra caçar filhotes de bichos que não me fizeram mal
mas vou roendo o café na boca
e deixei todos os dias curtos me tocarem
pra saber se saio mesmo dessa máquina
já que os dias estão corridos
e não tenho tempo pra ficar perdendo com bobagem
mas faço ainda questão demais de quem é pessoa amiga
mas impulsionada por essas ideias aprendi a lidar com o que não queria
é um alívio atrás do outro cada limpeza

que o poder público impõe
corpo podre cidade sem fluxo
tantas bolhas nesses tempos que fujo fujo
deixo as máquinas me cortarem
os fios curtos que trago no limbo
e depois de todos esses tempos
faltam ainda beiradas pros ritmos que sigo cortando
eu nessa cadência me confidencio
quero mesmo é descanso e que não me façam mal

pego o que o podre poder repõe
corpo trôpego a trafegar cidade
tantas máquinas que no tempo fujo
deixo os fios me atravessarem
desligo e sumo
faltam ainda nessas beiras tempos que sigo buscando
eu nessa coerência me distancio
quero mesmo é descanso

eu escrevo nesse caderno impulsionado
descrevo os medos que vivo
desejo que não façam mal a quem é amigo
não fujo mas determino meus fluxos
comprei marcada a coisa de metal
pra sair contanto os furos nessa bolha abissal
eu que não tenho tempo pra ler tanta bobagem
escrevo nesse caderno amassado


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