quarta-feira, 6 de outubro de 2010

até o ponto final

reparo no rosto de todos
na rua a expressão fechada de luz de sol
na rua cara fechada
sobrancelhas contraídas vincos e marcas
bochechas contraídas traços fundos do lado do nariz
fisicamente incapazes de demonstrar qualquer humor contraído
todo dia nenhum bom dia
o sol seco sempre contra
na rua a mesma fachada de cera
tanta desconfiança no olhar torto
só se desfaz quando encarada por outro olhar
que ninguém se encara
tão estranho encostar quando faz esbarra
todo solo seco nem encontra
tanto degrau na calçada
ninguém olha pro céu
vem o ônibus
atravesso grande parte de quatro grandes avenidas
nem a moça bonita senta do meu lado
quando senta nem conversa
cobrador nunca responde meu oi
quando não dou me dá boa noite como quem cobra
que cada patada me desanima
mas faço de qualquer agrura improviso
aí no final da noite tentando em tanto barulho
até o ponto final
é trocador que cobra gentileza
quem me faz companhia num papo entrecortado

e no ponto meu cigarro faz fumaça que incomoda
até peço desculpa do vento seco naquela direção sem graça
minhas coisas esparramam no chão
bato a cabeça desequilibro e nem tem conversa com ninguém
que tanta pancada atordoa
mas tento a qualquer custo
de tão caro que ficam todas passagens no mês
tento muito muito mesmo
ainda conservar minha inocência
mesmo que toda torta estirada esburacada.

11 comentários:

  1. tanta gente junta, mas tão desencontradas... acho que é um mal geral das 'cidades grandes' =\

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  2. Companhia

    Caminhava só.
    Acompanhado apenas dos pensamentos,
    Que respondiam todas as perguntas.

    Não havia mais ninguém.
    Somente Corpos.
    Vi-ven-do;
    Sem querer – sem saber.

    A certeza de que é assim –
    E sempre será –,
    É uma verdade egoísta – mas é a única.

    Companheiros são sombras.

    http://lucidezensandecida.blogspot.com/2010/02/companhia.html

    me inspirou também a escrever um que vou postar agora no meu blog.

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  3. coisas de bicho-urbano!!!!
    Ferreira Gullar tem um poema que diz "que mentiria se morasse numa pequena cidade/pois seu coração queima gasolina (da comum). Sou um bicho-urbano" (modificado)
    Caótico? As cidades são cenários para o poeta. É delas que se extrai o sofrimento e o último suspiro (com fuligem) do verso.
    Mesmo que todos estejam de cara fechada.

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  4. mucho bueno! Quanto mais gente junta, maior a sensação de estar sozinho...

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  5. Ontem eu vi em Betim "Zocrato governado" !

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  6. alguém entendeu o comentário da lídia? hauhauhauah...

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  7. será que era governador?

    confesso que não, de forma alguma.

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  8. zocratíssimo, depois a lídia me explicou. é que ela viu uma placa (antiga até. nem era dessa eleição.) em que estava escrito: "para governador, zocrato". não sei se era exatamente isso, mas está aí a essência do que ela me disse.

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  9. vocÊ tem até dez de dezembro pra atualizar esse negócio aqui. travesti não é bagunça.

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lave











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