domingo, 9 de dezembro de 2007

outro dia de chuva

Senti cheiro de sabão
na chuva que veio
para lavar a alma dessa
tarde abafada grotesca lírica tarde amanhã finados
finos suaves tocantes e leves
Suave fragrância de tempero
às dez horas talvez
tarde demais para
fazer qualquer coisa
ou tentar resolver minha vida
ou querer pirar o verbo
E as gotas sobraram lá fora
deixaram um cheiro de asfalto e terra molhados
nos princípios
depois acostumaram com o barulho
de motores, serras, da serralheria e da chuva
Tarde de amantes à chuva
mortos pelo ácido
desistidos por mim

gotas e mais gotas
qual é, não consigo contar
que foi? não sei se isso é fúria
ou desilusão
apenas uma vontade de ter escrito
só coisas já escritas
passar a limpo

agora a chuva deixa um cheiro de sabão molhado
abafado
Hora normal para tomar um banho




noite dez horas: hora normal
dez noites e um rascunho de saudade
falta fica e sente
na rua do Benfica, princípio de utopia
não vivida, antecipada
na barragem do Benfica, corpos flutuando
na areia e lama
no morro do Bonfim, luzes e torres
para pegar o sinal
ondas eletromagnéticas e um nome que fascina

molhe-se, precisa de um banho
pólvora queimando rápido
queimando embaixo da chuva que parou
deixou tudo molhado
seco e frio
material como devia ser
Morto gosto do tempero
Senti a tarde correndo e eu sem poder correr
atrás
sem morrer e vendo o tempo
não alcançar

Devia percorrer o tempo
até achar aquilo que vai passar
ver as gotas de chuva escorrendo
pingando pingos de sangue
umedecendo o ar para passar
nos pulmões
afogando um escrevinhador de folhetins
baratos românticos fúteis que ainda existe
ou antes existia



Deixa eu sentir esse momento,
nunca aconteceu isso comigo
mas eu devia estar pingando de esperança
mas morte
os motes que acompanham a poesia
o épico que vive com a pretensão

mel pra urso de walt disney
alguma coisa pra tirar o salgado tempero
Desenhos com o olho e com o ar
os dedos e os peidos
algumas gotas e mais gotas

gotas e mais gotas
passar a limpo
o sujo e o solene
contar os momentos e
os espaços do tempo
amanhã feriado, tempo
(de lembrar e esquecer os que
parecem fazer falta e só se lembra
bons)

o sujeito hora normal: rascunho normal
tenho um princípio de espaço

contarei os espaços no tempo
os momentos princípios
tenho tempo, um espaço

2 comentários:

  1. rascunhos de saudade... aki a arte final tah pronta!!
    lindas palavras... rascunho de saudade!

    ResponderExcluir
  2. Adorei o poema. Escreves muito bem. Poderia me mandar um e-mail para nos correspondermos? É ricardo.oximoro@gmail.com - Grato =)

    ResponderExcluir

lave











metâmero

Creative Commons License
cárdeo [e todo o conteúdo, exceto quando citado de outrx autorx] de marcos assis está licenciado por creative commons atribuição-uso não-comercial-compartilhamento pela mesma licença 2.5 brasil